20 de jan. de 2005

Mais louco é quem me diz

Corrijam -me se eu estiver errada, mas... é viagem minha ou o número de pessoas perambulando a êsmo na rua, falando sozinhas aumentou consideravelmente?
Cheguei agora mesmo da minha caminhada (quase) habitual e ainda não consegui digerir direito o que acabei de presenciar.
Ainda na ida, passei pela figura cambaleante, praguejando sozinho e gesticulando muito, mais ou menos como fazem os flanelinhas manobristas, mas em direção do nada. Me chamou a atenção o fato dele estar bem arrumado, com roupas boas, ou seja, homeless não era.
Na volta, gente, e isso não me sai da cabeça, foi que a cena aconteceu; o mesmo homem estava simplesmente fazendo xixi no poste, com a perna levantada exatamente como um cachorro.
Dito assim pode parecer engraçado, as pessoas em volta riam, a porta do bar próximo se encheu de gente pra ver e gargalhar desse verdadeiro freak-show.
Isso me chocou profundamente. Como alguém pode se divertir à custa da degradação e da desgraça humana? Fiquei mal, de verdade. Duas coisas me vieram imediatamente à cabeça durante o trajeto da volta: uma, a Balada do Louco, dos Mutantes, que infelizmente não se encaixaria neste caso. Impossível mesmo foi deixar de pensar em Manuel Bandeira:

Vi ontem um bicho


Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.




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